La farfalla

Liz Confrizzi

Tuesday, October 18, 2005

É péssimo - mas interrompemos o horário nobre de Tirintina Colida...

mal, mal, mal, Urtulino achou que podia socorrer a mulher do corpo quente e se deu mal...
apareceu um pavoroso homem e declamou três tenras frases que tiraram Colida e Piemont do sossego:

"ves estas manos? han medido la tierra. han separado los minerales y los cereales ..."

- Ó, meu estúpido plagiador e mitomaníaco! Colida acendeu-se, reconhecendo os versos alheios (sim, eram o início de mais um poema de neruda) ao seu antigo homem "el brazo"!


Urtulino, já nessa hora apelidado por Brazo de Tutu, via-se despedaçado pela infâmia, pelo despojamento, pela quebra dos padrões polidos e educados del hombre que ali embebedava la farfalla.
(leitor desavisado e raro que aqui chegou, a saga de Colida está caminhando a passos de formiga, mas já estamos no sexto capítulo, portanto, se quiser acompanhar qualquer enredo, comece do começo lááá embaixo)

Wednesday, October 12, 2005

Gracias a la vida

Urtulino Piemont passava pelo seu mesmo caminho de todos os dias. Nem estranhou o corpo de mulher, ou os olhos secos e fechados que se perderam por ali e ficaram. Os passos e olhos de Urtulino apenas volveram ao ponto onde estava ela quando esbarraram com duas... três, ou quatro botellas del más precioso pisco sour que allí se quedaban...
Aí, aprumou as lentes dos óculos e prestou mais atenção à criatura que ali restava.
Metódico e minimalista, Piemont examinou o corpo e sentiu a temperatura daquelas carnes.
Calculou 41 graus, 41 graus e meio... 41 graus e 35 centésimos... fez a média aritmética e chegou a quarenta e um graus, duzentos e oitenta e três milésimos... na verdade a dízima era periódica, e ficou três minutos...três minutos e um terço... três minutos e quatro sextos... pensando em solução para a exatidão de seus cálculos. Desistiu e simplesmente concluiu que o pisco sour fizera mais uma vítima febrilus delirantis.
Urtulino era um palito engomado que escapara do paliteiro: homem-tripa também conhecido por vara-almofada. Tipo nascido na Basiléia, era descendente em decadência do filão dos Euler. Conta-se inclusive que Leonhard Euler, primo seu e matemático notável, era sua maior influência quanto ao interesse pelos cálculos, embora Urtulino tenha vindo ao mundo 185 anos e 22 dias após a morte do seu ancestral prodigioso.


Enquanto Piemont pensava e calculava, raciocinando a conta-gotas, Tirintina Colida sonhava e os versos que lhe dançavam na mente ébria eram algo de Violeta Parra:

"Gracias a la vida, que me ha dado tanto.
Me dio dos luceros, que cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco,
Y en el alto cielo su fondo estrellado,
Y en las multitudes el hombre que yo amo."

Por quem rodeavam os pensamentos delirantes de Colida?
Nem Urtulino saberia calcular...

Thursday, October 06, 2005

Tirintina Colida - 1972-1996

(novamente aviso: a breve história de Tirintina Colida, segue, mas se não a conhece ainda, leia os post' anteriores, bye, bye, so long farewell)
Tirintina Colida morreu.
Pensou ter pisado numa poça de lama, e quando se deu conta, era seu sangue o que a circundava. Inundou-se de maneira trágica, rápida e hemorrágica no seu próprio vinho tinto, e tossiu sem ter tempo de ensaiar o último suspiro.
Havia quatro formigas ébrias bebendo pisco sour ali pelas terras sulforosas onde jazia Colida.
Elas conversavam tranqüilamente sobre a situação política latino-americana, a crise e o tempo dos regimes militares. Proseavam inicialmente naquele tom etílico e pouco emocionado, e, em pouquísimos minutos de assunto, choravam com as anteninhas encostadas, seus ombros que não tinham, pelos mortos, torturados, filhos e jovens desaparecidos naqueles dias.
E Tirintina ali, suas carnes vizinhas daqueles dois seres entristecidos e embrigados que eram os únicos a chorar no dia de sua morte.
Era apenas 22 de abril de 1996.

Wednesday, October 05, 2005

Golden Nuss


Tirintina Colida esqueceu até o seu nome após passar um mês e doze dias tolerando "El brazo".
Escapou-se sem nem dar tchau quando encontrou um corvo morto no caminho para sua casa. Por conta de sua inabalável fé em Paulo Coelho e nos sinais, não desprezou essa anúncio evidente de que "El brazo" já estava pra lá de passado.
Wonder nesse tempo não esquecera os olhos amendoados de Colida, pois nunca os tinha visto, claro! Já cantava outras canções, e encontrara Dijáva numa savana pelo sul da África, que sempre confundia com a África do Sul. Até hoje ninguém afirma com plena certeza qual foi o local do encontro. Os dois seguiram trocando uns uivos y otros sonidos por aí.

O sono bateu como vento nos olhos cansados de Colida, sonhou estar sobre as cordilheiras andinas. Talvez delirasse, embora ninguém tenha notado sinal qualquer de febre, nem mesmo um dos vinte e três homens que lhe tocaram o rosto naquele quarto de hora, este era médico. O suposto delírio era conseqüência da overdose de Golden Nuss, chocolate com amêndoas, que tentara ingerir até a morte, mas apenas lhe causara a pior das diarréias da sua vida.
(o sonho de Tirintina Colida foi fotografado, aí acima se pode ver até parte da asa da aeronave)

"Gracias a la vida
que me ha dado tanto"